terça-feira, 5 de junho de 2012


Eu, sabendo que te amo,
e como as coisas do amor são difíceis,
preparo em silêncio a mesa
do jogo, estendo as peças
sobre o tabuleiro, disponho os lugares
necessários para que tudo
comece: as cadeiras
uma em frente da outra, embora saiba
que as mãos não se podem tocar,
e que para além das dificuldades,
hesitações, recuos
ou avanços possíveis, só os olhos
transportam, talvez, uma hipótese
de entendimento. É então que chegas,
e como se um vento do norte
entrasse por uma janela aberta,
o jogo inteiro voa pelos ares,
o frio enche-te os olhos de lágrimas,
e empurras-me para dentro, onde
o fogo consome o que resta
do nosso quebra-cabeças.

domingo, 3 de junho de 2012

cid:D8101E29CA1B492DA9F295DFAE9EC0CF@VeraAparecida

Recorda,...
quando perceber o silêncio
que há entre a mente
e os sentidos,...
um tráfego de palavras
sugerindo o que almejo:
a discreta poesia
que confunde quem vê.
Lembra,...
nas horas que me ausento,
do instante em que viu
no olhar o brilho,
nos lábios o sorriso sutil.
Recorda porque sonho,...
no sabor da saliva do beijo,
viver outra vez o amor
que a alma concebeu.

sexta-feira, 1 de junho de 2012


Renuncio às palavras
e às explicações.
Ando pelos contornos,
onde todos os significados
são sutis,são mortais.


Não quero perder o momento belo.

Quero vivê-lo mais,
com a intensidade que exige a vida:
desgarramento e fulguração.

Então me corto ao meio e me solto de mim:
a que se prende e a que voa,
a que vive e a que se inventa.
Duplo coração:
a que se contempla e a que nunca se entende,
a que viaja sem saber se chega
- mas não desiste jamais.


 



"O mundo é um rumor longínquo
De mar em ressaca
A quebrar-se nas amuradas
Do meu castelo sem pontes."


Abri as janelas
que havia dentro de ti
e entrei abandonado
nos teus braços generosos.

Senti dentro de mim
o tempo a criar silêncio
para te beber altiva e plena.

Mil vezes
repeti teu nome,
mil vezes,
de forma aveludada
e era a chave
que se expunha
e fecundava dentro de mim.

Já não se sonha,
deixei de sonhar,
o sonho é poeira dos tempos
é a voz da extensão
é a voz da pureza
que dardejava na nossa doçura.

Quando abri as tuas janelas
e despi teus braços
perdi a vaidade
e a pressa,
amei a partida
e em silêncio abri,
(sem saber que abria)
uma noite húmida
em combustão secreta
desmaiado no teu ombro
de afrodite.

Carlos Melo Santos, in "Lavra de Amor"