domingo, 3 de junho de 2012
Recorda,...
quando perceber o silêncio
que há entre a mente
e os sentidos,...
um tráfego de palavras
sugerindo o que almejo:
a discreta poesia
que confunde quem vê.
Lembra,...
nas horas que me ausento,
do instante em que viu
no olhar o brilho,
nos lábios o sorriso sutil.
Recorda porque sonho,...
no sabor da saliva do beijo,
viver outra vez o amor
que a alma concebeu.
sexta-feira, 1 de junho de 2012

Renuncio às palavras
e às explicações.
Ando pelos contornos,
onde todos os significados
são sutis,são mortais.
Não quero perder o momento belo.
Quero vivê-lo mais,
com a intensidade que exige a vida:
desgarramento e fulguração.
Então me corto ao meio e me solto de mim:
a que se prende e a que voa,
a que vive e a que se inventa.
Duplo coração:
a que se contempla e a que nunca se entende,
a que viaja sem saber se chega
- mas não desiste jamais.
Abri as
janelas
que havia dentro de ti
e entrei abandonado
nos teus braços
generosos.
Senti dentro de mim
o tempo a criar silêncio
para te
beber altiva e plena.
Mil vezes
repeti teu nome,
mil vezes,
de
forma aveludada
e era a chave
que se expunha
e fecundava dentro de
mim.
Já não se sonha,
deixei de sonhar,
o sonho é poeira dos
tempos
é a voz da extensão
é a voz da pureza
que dardejava na nossa
doçura.
Quando abri as tuas janelas
e despi teus braços
perdi a
vaidade
e a pressa,
amei a partida
e em silêncio abri,
(sem saber
que abria)
uma noite húmida
em combustão secreta
desmaiado no teu
ombro
de afrodite.
Carlos Melo Santos, in "Lavra de
Amor"
quarta-feira, 30 de maio de 2012
Às vezes, quando a noite vem caindo,
Tranquilamente, sossegadamente,
Encosto-me à janela e vou seguindo
A curva melancólica do Poente.
Não quero a luz acesa. Na penumbra,
Pensa-se mais e pensa-se melhor.
A luz magoa os olhos e deslumbra,
E eu quero ver em mim, ó meu amor!
Para fazer exame de consciência
Quero silêncio, paz, recolhimento
Pois só assim, durante a tua ausência,
Consigo libertar o pensamento.
Procuro então aniquilar em mim,
A nefasta influência que domina
Os meus nervos cansados; mas por fim,
Reconheço que amar-te é minha sina.
Longe de ti atrevo-me a pensar
Nesse estranho rigor que me acorrenta:
E tenho a sensação do alto mar, Numa noite selvagem de tormenta.
Tens no olhar magias de profeta
Que sabe ler no céu, no mar, nas brasas...
Adivinhas... Serei a borboleta
Que vendo a luz deixa queimar as asas.
No entanto — vê lá tu!— Eu não lamento
Esta vontade que se impõe à minha...
Nem me revolto... cedo ao encantamento...
— Escrava que não soube ser Rainha!
Fernanda de Castro, in "Antemanhã"
Recebida Carinhosamente de: F.C.S.L - 30/05/2012
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